terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Aristóteles nos tempos atuais


Lendo Ética a Nicômaco (Aristóteles, 1966), deparei-me com uma discussão travada pelo autor cujo escopo era “desembrulhar” o que seria algo deliberado e seu anverso. Aristóteles inicia essa reflexão ao perseguir uma resposta ao que seria a “excelência moral” e como se chegar a ela – ponto central em seu livro III.
Então, qual o significado de deliberado para Aristóteles? Para podermos compreender este conceito devemos nos ater a conceitos anteriores trabalhados na obra (no mesmo livro III) como “escolha” e “ação voluntária e involuntária”. O que compreendemos, a partir da leitura daquele autor, sobre ação voluntária e involuntária? Resumidamente, por ação voluntária devemos compreender que a ação em si, sua natureza, parte do interior do indivíduo, não sendo determinado pelo exterior deste. Involuntárias seriam “as ações praticadas sob compulsão ou por ignorância; um ato é forçado quando sua origem é externa ao agente, sendo tal a sua natureza que o agente não contribui de forma alguma para o ato, mas ao contrário, é influenciado por ele (...)”. Claro que o exercício filosófico da busca de conceitos por Aristóteles não encerra desta maneira, mas trilha muitos caminhos e possibilidades de formulação.
Passamos agora para o conceito de “escolha”. Utilizando-se da comparação entre animais e seres humanos o autor norteia a discussão para o caminho do racional-irracional.

(...) a escolha requer o uso da razão e do pensamento. (ARISTOTELES, 1966: pg. 156)

Nestas condições, somente os seres humanos podem inclinar-se para a escolha. A escolha envolve algo de premeditado, algo cognoscível à percepção humana. Chegamos então ao conceito de “deliberado”.
Para Aristóteles, o conceito de deliberado toca a capacidade do homem decidir sobre sua realidade: modifica-la ou mantê-la. Mas, há coisas sobre as quais os homens não podem interferir, entre elas, os objetos de estudos das ciências exatas e autônomas (imagine se possível deliberar sobre quais moléculas formarão a substancia água?).
Toda essa discussão envolvendo intenção, escolha e deliberação me faz pensar sobre um problema muito em voga nos tempos atuais: meio ambiente. Se é verdade que mantendo o modo de produção capitalista atual nós caminhamos para a destruição da natureza, por que não mudar? Se o sistema é cognoscível (característico da “escolha”) e toca a uma construção humana, é algo que pode ser deliberado. Mas onde se encontra a escolha? Principalmente a da mudança? Encontro a resposta na modernidade Weberiana.
A modernidade tocada pelo capitalismo figura-se na “jaula de ferro”, num aprisionamento dos indivíduos a um sistema rígido. Se pensamos na modernidade por um ponto de vista das diversas identidades, pluralizações, não podemos esquecer que há um continuo processo de padronização ética e estética, em que a produção dita o consumo e a busca incessante por lucro dita a moral e a ética. Esse sistema neutraliza a deliberação, direciona a escolha e corrompe a intenção; ou seja: a preservação do meio ambiente incompatível como sistema.

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