sexta-feira, 19 de novembro de 2010

"Clandestinos": O sonho acaba aqui.


Boa tarde! Hoje, dia 19 de novembro, venho neste espaço me pronunciar sobre minhas interpretações acerca de uma nova série transmitidas pela Rede Globo - "Clandestinos: o sonho começou" -. A priori, não é uma série ruim, pelo contrário, é bem "gostosa" de se assistir. Às vezes engraçada, triste, conta histórias verídicas de seus próprios personagens, apresentando desafios, conquistas, perdas dos mesmos ao longo de suas vidas. Porém, como um estudante de Ciências Sociais, e com o intuito de dar pitaco acerca de tudo, não poderia de colaborar com algumas críticas que são bem SÉRIAS, que não podemos deixar passar em branco. Uma vez, neste mesmo blog, disponibilizei um texto de minha autoria pautando a "Indústria Cultural". Novamente irei tocar essa questão, só que agora ampliando o campo de discussões. Pois bem; o que esperamos que acontecesse com os personagens que atuam nessa nova série? Um final feliz claro. Afinal, depois de tantos empecilhos da vida, tantos muros derrubados, eles merecem um final feliz. É isso que grande parte dos produtos dessa "indústria cultural" nos transmite: que por mais que você esbarre nesses muros, você ainda tem chance de ser feliz no final. Por essa felicidade podemos citar algumas de suas composições desse mundo capitalista moderno, entre elas a RIQUEZA E A FAMA. Claro que podemos citar muitas outras, mas apenas esses dois nos são necessários para levar a discussão adiante. A televisão, entre todos os outros meios de comunicação vivem nos dando exemplos de superação, de pessoas que saíram da pobreza e chegaram a High Society. Claro que essas informações não são mentirosas (ou não, vai saber). Há sim casos de pessoas que saíram da extrema pobreza e chegaram a pura riqueza - uma pessoa em cem (100)ou outras mil (1000) -. Essas informações de SUPERAÇÃO são vendidas a nós como sendo possibilidades apenas pessoais, ou seja, individuais - se o indivíduo quiser sair da extrema pobreza e ficar rico, dependerá apenas dele, de seu esforço pessoal, etc, etc... -. Essa é uma característica PROBLEMÁTICA do "ocidente secularizado", uma total valorização do indivíduo perante o meio social a que ele está inserido. Que consequências isso traz para a sociedade? MUITAS; posso afirmar. É totalmente falha a idéia de que apenas iniciativas individuais irão mudar situações presentes. Não podemos negar e muito menos fechar os olhos para o SISTEMA ECONÔMICO, SOCIAL E POLÍTICO que vivemos. São raras as chances de um pobre, sem perspectiva de vida nenhuma, sem visão de futuro, de alcançar uma situação de vida "santificada" por nossa sociedade capitalista. Há vários fatores que impedem que isso ocorra. Primeiro, a exclusão social de todos os meios possíveis de crescer economicamente, socialmente. Pessoas da classe "A" têm mais capital social, financeiro, do que pessoas da classe "D". Isso é impossível de se negar. Segundo, o peso do fracasso é jogado nas costas de cada sujeito como sendo culpa deles se encontrarem na situação que vive. É ridículo acreditar nisso. Devemos abrir os olhos, tirar as vendas da cara e tomar consciência de que tudo que encontramos em nossa sociedade foi construído por toda a sociedade, sua coletividade. Sim, a POBREZA é uma construção social. A DESIGUALDADE SOCIAL é uma construção social. Não podemos atribuir a culpa de ser pobre apenas a um individuo. Se continuarmos assim não mudará nada. Mas, o que tem a indústria cultural a ver com isso? Tudo. É essa própria indústria que vende a cada pessoa a idéia de que se ela é pobre é porque ela não se esforçou como deveria ter se esforçado, que ela não mudou de vida porque é incapaz de fazer isso e o pior de tudo: que algum dia, ela poderá sair dessa condição por si mesma. "Clandestinos: o sonho começou" não foge a essa regra, pois ao apresentar pequenos e contáveis casos de superação de seus personagens, personagens esses que milhares de pessoas se identificam a cada dia que passa, deixa a ilusória idéia de que algum dia isso poderá mudar. VENDA DE ALIENAÇÃO.

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