
Precisamos repensar o jornalismo. É com essa frase que abro esse texto, por um motivo óbvio, creio que nossa reflexão sobre a produção jornalística não é capaz de captar a realidade desse mundo controverso e cheio de ciladas que é o campo jornalístico. De inicio pode-se pensar que essa proposta está relacionada à nova realidade online, às redes sociais ou coisas do tipo. Mas definitivamente não são esses pontos que motivam a reflexão. Penso, sobretudo, em alguns fatos que afetaram o jornalismo. Dou destaque a dois, o caso Murdoch e a cobertura do Pan Americano feita pela Globo.
Os dois casos, em si, em nada se assemelham. Em um, estamos falando da quebra de sigilo telefônico de mais de 4000 pessoas na Inglaterra e as relações promíscuas entre um conglomerado de mídia e setores políticos interessados. No outro, a questão levantada é a do interesse público em torno de um evento, ao qual foi dado menor importância devido a disputas de audiência com a Record. Mas, ainda assim, cabe perguntar o que aproxima esses casos?
Ambos são sintomas de uma prática jornalística que não mais se pauta por valores (valores notícias e interesse público, por exemplo), mas por interesse econômico. Os ganhos, os lucros, estão acima do bem informar a população, o valor econômico passa a ser o principal na veiculação de notícias. É nesse ponto que está o grande desafio de quem se preocupa em pensar a prática jornalística atual.
A maior parte dos estudos sobre jornalismo partem de uma idéia de jornalismo pré formatada e tentam medir a realidade com essas concepções. Há a esperança de que essas idéias sejam capazes de alterar o mundo dos jornalistas. Isso tem um nome: Idealismo. A maior parte das pesquisas em jornalismo hoje em dia são idealistas e prendem-se a uma dicotomia improdutiva chamada de Bom e Mau jornalismo. Enquanto pensarmos dentro dessas perspectiva, e por meio de todo aparato por ela construído, estaremos pisando em nuvens, mas não estaremos mostrando como é de fato a realidade produtiva do jornalismo. É preciso inverter a ordem desses fatores.
O jornalismo precisa ser pensado a partir de sua produção, pois não são as idéias que descem do céu, elas são produzidas nas relações sociais, econômicas e políticas na qual um jornalista, ou uma empresa jornalística, está inserida. Pode chamar, se quiser, de Teoria Materialista do Jornalismo. Para entender o Caso Murdoch, ou a Cobertura do Pan, deve-se estar além de bom e mau. Necessita-se questionar, como as empresas se posiconam? E como isso aparece em seus jornais? Como se dão as relações de trabalho em cada uma delas? Qual foi seu método de apuração das matérias? Quais são as disputas econômicas envolvidas entre as empresas de comunicação?
Essas questões seriam capazes de construir um escopo geral para se entender um pouco melhor essa realidade do jornalismo movido por valores econômicos. A partir dessas questões entra outra fundamental, por que como disse Marx, não podemos nos limitar a interpretar o mundo, é preciso transformá-lo. Essas questão é para dar conta de uma deontologia, de um dever moral do jornalista. Veja bem não estou falando de ética, não estou falando de padrões universais. Estou falando, para que a partir da interpretação da realidade jornalística atual, propormos algo diferente. E esse “algo diferente” passa, necessariamente, pelo entendimento da realidade atual conjugada com propostas de transformação desse mundo.
Cícero Villela - Graduando em Comunicação Social na UFJF